Deixe  o passado entrar...

 

Cabelos brancos, despenteados, caindo

Sobre as rugas do rosto

Colando-os aos olhos molhados

Do pranto reprimido...

E com passos cansados

Abre a porta

E deixa o passado entrar...

É bom outra vez sonhar !

Não sabia chorar

Mas sua alma estava  molhada

De tristeza.

Esperou tanto por esse carinho

Que quando ele  chegou

Veio como um presente atrasado

De tanto tempo esperado !

Com um jato de ternura

Queria apertar esse passado

Contra o peito

Para varrer o vazio...

E não tinha pressa alguma,

A eternidade era muito grande.

Abraçou a sombra do passado,

Fez uma pausa para esquecer a solidão

E deixar que o tão sofrido coração

Relembra-se e acalenta-se

Lembranças que deveriam já estar mortas...

 

Aos poucos o vento, ingrato inimigo,

Foi fechando a porta

E o passado foi indo...

Tentou segura-lo

Mas as forças lhe faltaram

E o passado partindo

Retornou às dores do presente

Vivendo com os restos de ternura

A vida...

E assim a noite chegou

Indiferente à solidão e à tristeza

 

Ainda tentou  tateando os rastros

Guardar no peito segredos

Que o passado, com pena, deixou...

E assim foi lentamente,

Vivendo novamente

O presente inútil  em que se resumia sua vida

Esperando sempre que a porta se abrisse outra vez

E o passado, tão amado, voltasse.

Mas o passado não volta...

Restaria o futuro incerto e triste

Para os longos dias vazios

Que certamente viriam....

 

                                       Elis..

 

 

Midi: Freddie Mercury e Montserrat Caballe – How can I go on?